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Perfil: conheça a carreira de Carlos Lucena, um dos fundadores do DI

Professor titular do Departamento é pioneiro na área de computação no Brasil e possui uma singular trajetória profissional com inúmeros prêmios e honrarias

Que tal conhecer mais sobre a carreira e as conquistas dos pesquisadores do DI? Periodicamente, vamos apresentar um perfil de um professor do departamento. A estreia é com um dos grandes nomes e o fundador do DI, o professor titular Carlos Lucena. Confira!

Cerca de 60 honrarias ao longo de cinco décadas de carreira; mais de 700 trabalhos publicados; e mais de 9.500 citações em trabalhos diversos. Definitivamente, não é fácil resumir a extensa e grandiosa trajetória profissional do professor titular Carlos Lucena, de 78 anos, um dos fundadores do Departamento de Informática (DI) da PUC-Rio e pioneiro na área da computação no Brasil. 

O professor Marco Antônio Casanova que o diga. “Foi muito difícil escrever todos os seus feitos em apenas uma página”, brincou Casanova, responsável por escrever uma minibiografia de Lucena para o “Diploma de Pesquisador de Destaque”, oferecido pela PUC-Rio. Em dezembro de 2018, foi o primeiro a ser agraciado pelo prêmio, pelos relevantes serviços prestados à universidade.

A PUC-Rio não foi a única a se beneficiar com as contribuições de Lucena. Se hoje nós temos internet no Brasil, devemos grande parte desse esforço ao professor, que é reconhecido como um dos implementadores da internet no país pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), organização vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, e Inovações (MCTI). 

A sua trajetória não para por aí. Para falarmos sobre o seu extenso trabalho e importância para a área de computação, precisamos voltar lá atrás. Nascido em Recife, em 1943, o jovem Lucena se mudou para o Rio de Janeiro com apenas 2 anos de idade. Na infância e na adolescência, desenvolveu o gosto por tocar violão, além de adotar, como hobby, a escrita de contos e poesias.

Porém, a sua preferência pela área de exatas ditou os rumos da sua vida profissional. Em 1962, ele ingressou na universidade e se graduou em Economia, com ênfase em Matemática. No mesmo ano, começou a estagiar no Centro de Computação da PUC-Rio (o primeiro do gênero no Brasil, criado em 1960), e permaneceu por lá durante toda a sua graduação. A partir de 1965, quando se formou, foi contratado pelo Departamento de Matemática para coordenar a área de Matemática Computacional.

O começo do DI

O Departamento de Informática da PUC-Rio ainda não existia e só começou a ganhar forma em 1967, quando Lucena, Arndt Von Staa, Antonio Furtado, Sérgio Carvalho, Luiz Martins e outros começaram a lecionar um novo mestrado em Informática na PUC-Rio. “Foi o primeiro curso de computação do país. Só que em 1967, a maior parte dos cursos de computação pelo mundo afora não era alocada em seus departamentos próprios, mas nos departamentos de matemática ou de engenharia”, explicou Casanova. 

Mas a gênese desse curso de computação pioneiro na PUC-Rio não foi nada fácil. “Nós procuramos professores estrangeiros para dar partida no programa do mestrado, mas não conseguimos ninguém que estivesse disposto a vir ao Brasil. Então, começamos a ensinar um ao outro; um estudava um livro e ensinava o conteúdo para os outros”, contou o professor emérito do DI Arndt Von Staa, que também participou da fundação do departamento. Esse processo também é conhecido como “boostrap”, que significa desenvolver uma coisa usando esta mesma coisa como instrumento. Para ilustrar o conceito, lembramos da célebre história “A Aventura do Barão de Münchhausen”, de Rudolph Raspe, onde o Barão puxa a si e o seu cavalo de um atoleiro através dos cadarços de suas próprias botas.

Esse programa de mestrado “self-made” catalisou então a criação do Departamento de Informática da PUC-Rio, que começou a operar oficialmente em março de 1968, e teve Lucena como cofundador.

O professor Lucena em sala de aula. Foto: Arquivo pessoal

A origem do nome do DI é curiosa. Ao redigir a documentação necessária para criar o que seria o Departamento de Ciências de Computação da PUC-Rio, ele trocou o termo, na última hora, para Departamento de Informática. O termo “informática”, até então, não era utilizado no vocabulário brasileiro – é uma versão adaptada do francês “informatique”. A adoção do termo no nome do Departamento acabou popularizando o termo, e serviu para evitar trocadilhos e chacotas de duplo sentido com a palavra “computação”, também pouco conhecida na época.

Assim nasceu o DI, que, no início, tinha Lucena como coordenador de Pós-Graduação, e Antonio Cesar Olinto como diretor. O DI começou sua primeira turma regular de mestrado e também de ICC – Introdução à Ciência da Computação e Cálculo Numérico. 

Mestrado e doutorado no exterior

Em 1967, Lucena começou o seu mestrado em Matemática no Department of Computer Science & Applied Analysis pela Universidade de Waterloo, no Canadá. E a relação com a instituição se firmou a partir de 1975 quando se tornou professor-adjunto e regularmente ia  passar alguns meses de inverno lá. “Ele ia todo ano ao Canadá e costumava levar dois alunos brasileiros de doutorado para lá. Por isso, a PUC-Rio teve uma quantidade muito grande de alunos trabalhando em Waterloo”, explicou Casanova: “É difícil um professor que tenha uma dupla inserção, aqui e em algum lugar do exterior, durante um tempo tão longo quanto Lucena. Isso é muito marcante em sua carreira e trouxe consequências importantes para o departamento.”

No exterior, Lucena também completou, em 1974, o doutorado em Ciência da Computação pela School of Engineering and Applied Sciences na University of California, Los Angeles (UCLA), nos Estados Unidos. Em 1975, fez pós-doutorado na IBM Research, no mesmo país. 

Carreira, prêmios e contribuições para a área 

Na PUC-Rio, Lucena é professor titular do Departamento de Informática e coordenador do Laboratório de Engenharia de Software desde 1982. Atuou também como Vice-reitor, Decano do Centro Técnico e Científico (CTC), Diretor do Departamento de Informática, por três vezes, e superintendente da Fundação Padre Leonel Franca (FPLF), entre outras funções.

Fora da universidade, ele acumula diversas posições de destaque em dezenas de associações, institutos e periódicos. Para destacar alguns, foi membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República, representando a Academia Brasileira de Ciências por dois mandatos, e integrou e coordenou conselhos, comitês e comissões de instituições como CNPq, Faperj e Capes – que contaram com uma grande atuação do pesquisador.

“Em seu segundo mandato como coordenador da área de computação da Capes, Lucena conseguiu incluir as conferências no programa de avaliação do curso. Na nossa área, as conferências são muito importantes. Mudar a forma de avaliação dentro da Capes foi uma grande revolução”, disse Casanova, que destacou a personalidade do pesquisador como “essencial” para essa conquista. 

Professor Lucena recebendo o prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1987. Foto: Arquivo pessoal

A gentileza e generosidade do professor também são reforçadas pelo professor emérito do DI Antonio Furtado, amigo de longa data de Lucena e um dos cofundadores do Departamento de Informática da PUC-Rio.

“Na vida acadêmica, alguns se notabilizam como professores de talento, alguns como pesquisadores originais, outros como empreendedores dedicados a iniciar e dirigir unidades de ensino ou de projetos aplicados. Raros são os que juntam duas dessas qualidades, raríssimos os que possuem as três. E entre esses privilegiados está o Lucena”, disse.

A extensa atuação e contribuição do professor foi amplamente reconhecida ao longo das mais de cinco décadas de dedicação ao DI. Com isso, ele recebeu cerca de 60 honrarias, como o Prêmio Almirante Álvaro Alberto de Ciência e Tecnologia, do Ministério da Ciência e Tecnologia, em 1987; a insígnia da Classe Grã-Cruz da Ordem do Mérito Científico da Presidência da República em 1996; o título de Fellow da Association for Computing Machinery (ACM) em 2014 – um dos primeiros latino-americanos a receber a honraria – e a medalha de Nobres Parcerias do Canadá, em 2017.  

“Todos do Departamento de Informática devem muito ao professor Lucena por tudo o que ele  fez ao longo desses anos. Somos muito gratos a ele”, destacou o atual diretor do DI, Markus Endler. “É o grande pioneiro na área da computação no Brasil”, disse Casanova.