INF1018 - Software Básico (2017.1)
Segundo Trabalho

Um compilador muito simples

O objetivo deste trabalho é desenvolver, em C, uma função compila que implementa um pequeno gerador de código (um "micro-compilador") para uma linguagem de programação muito simples, chamada Simples.

A função compila deverá ler um arquivo texto contendo o código fonte de uma função escrita em Simples e retornar um ponteiro para o início da região de memória que contém o código de máquina que corresponde à tradução da função contida no arquivo.

A região de memória que armazena o código gerado deve ser alocada dinamicamente.

Instruções Gerais


Leia com atenção o enunciado do trabalho e as instruções para a entrega. Em caso de dúvidas, não invente. Pergunte!
  • O trabalho deve ser entregue até meia-noite (23:59) do dia 19 de junho.
  • Trabalhos entregues com atraso perderão um ponto por dia de atraso.
  • Trabalhos que não compilem não serão considerados (ou seja, receberão grau zero).
  • Os trabalhos devem preferencialmente ser feitos em grupos de dois alunos
  • Alguns grupos poderão ser chamados para apresentações orais / demonstrações dos trabalhos entregues.

  • A Linguagem Simples

    Funções na linguagem Simples contém atribuições, operações aritméticas, instruções de desvio e de retorno.

    Na linguagem Simples, as variáveis locais são da forma vi, sendo o índice i utilizado para identificar a variável (ex. v1, v2, etc...). A linguagem permite o uso de no máximo 4 variáveis locais.

    Da mesma forma, os parâmetros são denotados por pi, e podem ser usados no máximo 2 parâmetros (p1 e p2).

    Constantes são escritas na forma $i, onde i é um valor inteiro, com um sinal opcional. Por exemplo, $10 representa o valor 10 e $-10 representa o valor -10.

    A sintaxe da linguagem Simples pode ser definida formalmente como abaixo. Note que as cadeias entre ' ' são símbolos terminais da linguagem: os caracteres ' não aparecem nos comandos!

    func::=cmd '\n' | cmd '\n' func
    cmd::=att | desvio | ret
    att::=varp '=' expr
    expr::=varpc op varpc
    varp::='v' num | 'p' num
    varpc::=varp | '$' snum
    op::='+' | '-' | '*'
    ret::='ret'
    desvio::='if' varp num
    num::=digito | digito num
    snum::=[-] num
    digito::=0' | '1' | '2' | '3' | '4' | '5' | '6' | '7'| '8' | '9'


    Alguns Exemplos

    Veja a seguir alguns exemplos de funções Simples.

    Note que os comentários não fazem parte da linguagem! Eles estão incluidos nos exemplos abaixo apenas para facilitar seu entendimento.


    Implementação e Execução

    O que fazer

    Você deve desenvolver em C uma função chamada compila, que leia um arquivo de entrada contendo o código fonte uma função na linguagem Simples, gere o código de máquina correspondente, e retorne o endereço da região de memória que contém o código gerado (um bloco de memória alocado dinamicamente).

    O arquivo de entrada terá no máximo 50 linhas, com um comando Simples por linha.

    O protótipo de compila é o seguinte:

    typedef int (*funcp) ();
    funcp compila (FILE *f);
    
    O parâmetro f é o descritor de um arquivo texto, já aberto para leitura, de onde deve ser lido o código fonte da função escrita em Simples.

    Implementação

    A função compila deve alocar um bloco de memória onde armazenará o código gerado (lembre-se que as instruções de máquina ocupam um número variável de bytes na memória!). O endereço retornado por compila será o endereço do início da memória alocada.

    Para cada instrução Simples imagine qual uma tradução possível para assembly. Além disso, lembre-se que a tradução de uma função Simples deve começar com o prólogo usual (preparação do registro de ativação, incluindo o espaço para variáveis locais) e terminar com a finalização padrão (liberação do registro de ativação antes do retorno da função).

    O código gerado deverá seguir as convenções de C/Linux quanto à passagem de parâmetros, valor de retorno e salvamento de registradores (se for o caso). As variáveis locais deverão ser alocadas na pilha de execução.

    Para ler e interpretar cada linha da linguagem Simples, teste se a linha contém cada um dos formatos possíveis.

    Não é necessário fazer tratamento de erros no arquivo de entrada, você pode supor que o código fonte Simples desse arquivo está correto. Vale a pena colocar alguns testes para facilitar a própria depuração do seu código, mas as entradas usadas como testes na correção do trabalho sempre estarão corretas.

    Veja um esboço de código C para fazer a interpretação de código aqui. Lembre-se que você terá que fazer adaptações pois, dentre outros detalhes, essa interpretação não será feita na main!

    O código gerado por compila deverá ser um código de máquina x86-64, e não um código fonte assembly. Ou seja, você deverá descobrir o código de máquina que corresponde às instruções de assembly que implementam a tradução das instruções da linguagem Simples. Para isso, você pode usar o programa objdump e, se necessário, uma documentação das instruções da Intel.

    Por exemplo, para descobrir o código gerado por movl %eax, %ecx, você pode criar um arquivo meuteste.s contendo apenas essa instrução, traduzi-lo com o gcc (usando a opção -c) para gerar um arquivo objeto meuteste.o, e usar o comando

    objdump -d meuteste.o
    para ver o código de máquina gerado.

    Estratégia de Implementação

    Implemente sua solução passo a passo, testando separadamente cada passo implementado!

    Por exemplo:

    1. Compile um arquivo assembly contendo uma função bem simples usando:
      minhamaquina> gcc -c code.s
      
      (para apenas compilar e não gerar o executável) e depois veja o código de máquina gerado usando:
      minhamaquina> objdump -d code.o
      
      Construa uma versão inicial da função compila, que aloque uma área de memória, coloque lá esse código, bem conhecido, e retorne o endereço da área alocada como os dois retornos de compila (os retornos são iguais pois só há uma função no código).

      Crie uma função main e teste essa versão inicial da função (leia o próximo item para ver como fazê-lo).

    2. Implemente e teste a tradução de uma função bem simples, como o exemplo a seguir (repare que neste caso precisamos apenas de uma atribuição e uma operação de soma de constantes):
      v1 = $0 + $1 // 1: i = 1
      ret          // 2: retorna i
      
      Pense em que informações você precisa extrair para poder traduzir as instruções (quais são os operandos, qual é a operação, onde armazenar o resultado da operação).

      Continue sua implementação, implementando e testando uma operação por vez. Experimente usar constantes, parâmetros, variáveis locais, e combinações desses tipos como operandos.

      Lembre-se que é necessário alocar espaço (na pilha) para as variáveis locais!

    3. Deixe para implementar a instrução de desvio apenas quando todo o resto estiver funcionando!

      Pense em que informações você precisa guardar para traduzir essas instruções (note que você precisa saber qual o endereço da instrução correspondente à linha para onde o controle deve ser desviado...)

    Testando o gerador de código

    Você deve criar um arquivo contendo apenas a função compila (e funções auxiliares) e outro arquivo com uma função main para testá-la.

    Sua função main deverá abrir um arquivo texto que contém um "programa fonte" na linguagem Simples (i.e, uma função Simples) e chamar compila, passando o arquivo aberto como argumento.

    Em seguida, sua main deverá chamar a função retornada por compila, passando os parâmetros apropriados, e imprimir o valor de retorno dessa função (um valor inteiro).

    Não esqueça de compilar seu programa com

    gcc -Wall -Wa,--execstack -o seuprograma seuprograma.c

    para permitir a execução do código de máquina criado por compila!

    Uma sugestão para testar a chamada de uma função Simples com diferentes argumentos, é sua função main receber argumentos passados na linha de comando. Para ter acesso a esses argumentos (representados por strings), a sua função main deve ser declarada como

    int main(int argc, char *argv[])
    
    sendo argc o número de argumentos fornecidos na linha de comando e argv um array de ponteiros para strings (os argumentos).

    Note que o primeiro argumento para main (argv[0]) é sempre o nome do seu executável. Os parâmetros que deverão ser passados para a função criada por compila serão os argumentos de 1 em diante, convertidos para um valor inteiro (você pode usar a função atoi para fazer essa conversão).


    Entrega

    Deverão ser entregues via Moodle dois arquivos:

    1. Um arquivo fonte chamado compila.c , contendo as função compila (e funções auxiliares, se for o caso).
      • Esse arquivo não deve conter a função main.
      • Coloque no início do arquivo, como comentário, os nomes dos integrantes do grupo da seguinte forma:
        /* Nome_do_Aluno1 Matricula Turma */
        /* Nome_do_Aluno2 Matricula Turma */
        
    2. Um arquivo texto, chamado relatorio.txt, contendo um pequeno relatório.
      • O relatório deverá explicar o que está funcionando e o que não está funcionando. Não é necessário documentar sua função no relatório. Seu código deverá ser claro o suficiente para que isso não seja necessário.
      • O relatório deverá conter também alguns exemplos de funções da linguagem Simples que você usou para testar o seu trabalho. Mostre tanto as funções Simples traduzidas e executadas com sucesso como as que resultaram em erros (se for o caso).
      • Coloque também no relatório o nome dos integrantes do grupo
    Indique na área de texto da tarefa do Moodle o nome dos integrantes do grupo. Apenas uma entrega é necessária (usando o login de um dos integrantes do grupo) se os dois integrantes pertencerem à mesma turma.