O objetivo deste trabalho é desenvolver em C uma função chamada
gera
, que implementa
um pequeno gerador de código (um "micro-compilador") para uma
linguagem de programação muito simples, chamada Simples.
A função gera
deverá ler um arquivo texto contendo o
código fonte de uma função escrita em Simples e retornar um ponteiro
para o início da região de memória que contém o código
de máquina que corresponde à tradução da função contida no arquivo.
A região de memória que armazena o código gerado deve ser alocada
dinamicamente. Também deve ser implementada uma função chamada
libera
, que é responsável por liberar a memória
alocada para armazenar o código de máquina gerado.
Leia com atenção o enunciado do trabalho e as instruções para a entrega.
Em caso de dúvidas, não invente. Pergunte!
O único tipo de dado de Simples é inteiro, com sinal, de 32 bits.
Variáveis locais são da forma vi
,
sendo o índice i utilizado para identificar a variável
(ex. v1, v2
, etc...). A linguagem permite o uso de
no máximo 5 variáveis locais.
Parâmetros de funções Simples são denotados por pi
,
e podem ser usados no máximo 3 parâmetros (p1, p2, p3
).
Constantes são escritas na forma
$i
, onde i
é um valor inteiro,
com um sinal opcional.
Por exemplo, $10
representa o valor 10
e $-10
representa o valor -10.
Funções Simples contém atribuições, operações aritméticas e instruções de desvio e de retorno.
var '<' varpconde
var
é uma variável local
e varpc
é uma variável local, um parâmetro ou uma
constante inteira.
Como exemplo, se temos
v1 < p1 v2 < $1 v3 < v2o valor do parâmetro p1 será armazenado na variável local v1 e o valor inteiro 1 será armazenado nas variáveis locais v2 e, consequentemente, em v3.
var = varc op varconde
var
é uma variável local,
varc
é uma variável local
ou uma constante inteira, e op
é um dos operadores '+' , '-' ou '*'.
Como exemplo, se temos
v1 = v2 + $1 v4 = v2 * v3o resultado da operação
v2 + 1
será armazenado na
variável local v1 e o resultado da operação v2 * v3
será armazenado na
variável local v4.
'iflez' var nonde
var
é uma variável local
e n
é o número de uma linha no código
fonte. A semântica dessa instrução é a seguinte:
'ret' varcNeste caso, a função deverá retornar, e seu valor de retorno é o valor da variável local ou constante inteira indicada.
A sintaxe da linguagem Simples pode ser definida formalmente como abaixo. Note que as cadeias entre ' ' são símbolos terminais da linguagem: os caracteres ' não aparecem nos comandos!
func | ::= | cmd '\n' | cmd '\n' func |
cmd | ::= | att | expr | dif | ret |
att | ::= | var '<' varpc |
expr | ::= | var '=' varc op varc |
var | ::= | 'v' num |
varc | ::= | var | '$' snum |
varpc | ::= | varc | 'p' num |
op | ::= | '+' | '-' | '*' |
ret | ::= | 'ret' varc |
dif | ::= | 'iflez' var num |
num | ::= | digito | digito num |
snum | ::= | [-] num |
digito | ::= | 0' | '1' | '2' | '3' | '4' | '5' | '6' | '7'| '8' | '9' |
Note que os comentários não fazem parte da linguagem! Eles estão incluídos nos exemplos abaixo apenas para facilitar seu entendimento.
v1 < p1 // 1: obtem argumento v1 = v1 + $1 // 2: soma 1 ret v1 // 3: retorna o resultado
v1 < p1 // 1: obtem argumento v1 = v1 + $1 // 2: soma 1 para poder testar <= 0 iflez v1 5 // 3: se menor ou igual a 0, desvia para linha 5 ret $0 // 4: retorna 0 (não é negativo) ret $1 // 5: retorna 1 (é negativo)
v1 < p1 // 1: obtem primeiro argumento v2 < p2 // 2: obtem segundo argumento v3 = v1 + v2 // 3: calcula a soma v4 = v1 - v2 // 4: calcula a diferença v1 = v3 * v4 // 5: multiplica ret v1 // 6: retorna o resultado
v1 < p1 // 1: obtem argumento v2 < $1 // 2: inicializa valor do fatorial v3 < $0 // 3: para poder fazer um desvio incondicional iflez v1 8 // 4: termina o loop quando n == 0 v2 = v2 * v1 // 5: atualiza fatorial v1 = v1 - $1 // 6: decrementa n iflez v3 4 // 7: volta ao teste do loop ret v2 // 8: retorna o valor do fatorial
gera
,
que leia um arquivo de entrada contendo o código fonte uma
função
na linguagem Simples, gere o código de máquina correspondente, e
retorne o endereço da região de memória que contém o código gerado
(um bloco de memória alocado dinamicamente).
O arquivo de entrada terá no máximo 30 linhas, com um comando Simples por linha.
O protótipo de gera
é o seguinte:
typedef int (*funcp) ();
funcp gera (FILE *f);
O parâmetro f
é o descritor de um arquivo
texto, já aberto para leitura, de onde deve ser lido o código fonte
da função escrita em Simples. Note que a função
não deve fechar o arquivo!
Você também deve implementar uma função chamada libera
,
responsável por liberar a memória alocada para armazenamento do código
de máquina. Seu protótipo é
void libera (void *pf);
Esses protótipos estão definidos no arquivo gera.h
,
disponível aqui.
A função gera
deve alocar um bloco de memória onde
armazenará o código gerado (lembre-se que as instruções de máquina ocupam
um número variável de bytes na memória!).
O endereço retornado por gera
será o endereço do início
da memória alocada.
Para cada instrução Simples imagine qual uma tradução possível para assembly. Além disso, lembre-se que a tradução de uma função Simples deve começar com o prólogo usual (preparação do registro de ativação, incluindo o espaço para variáveis locais) e terminar com a finalização padrão (liberação do registro de ativação antes do retorno da função).
O código gerado deverá seguir as convenções de C/Linux quanto à passagem de parâmetros e valor de retorno. As variáveis locais deverão ser alocadas na pilha de execução.
Para ler e interpretar cada linha da linguagem Simples, teste se a linha contém cada um dos formatos possíveis. Veja um esboço de código C para fazer essa interpretação aqui. Lembre-se que você terá que fazer adaptações pois, dentre outros detalhes, essa interpretação não será feita na main!
Não é necessário fazer tratamento de erros no arquivo de entrada, você pode supor que o código fonte Simples desse arquivo sempre estará correto.
O código gerado por gera
deverá ser um
código de máquina x86-64, e não um código fonte
assembly. Ou seja, você deverá descobrir o código de máquina que
corresponde às instruções de assembly que implementam a tradução das
instruções da linguagem Simples. Para isso, você pode usar o
programa objdump
e, se necessário, uma documentação
das instruções da Intel.
Por exemplo, para descobrir o código gerado por movl %eax, %ecx
,
você pode criar um arquivo meuteste.s contendo apenas essa instrução,
traduzi-lo com o gcc (usando a opção -c) para gerar um arquivo objeto meuteste.o
,
e usar o comando
objdump -d meuteste.o
para ver o código de máquina
gerado.
Por exemplo:
ret $100Note que, neste momento, apenas a tradução da instrução
ret
é necessária!
Crie uma função main
e teste esse primeiro passo, chamando a sua
função gera
, chamando a função criada por ela, e imprimindo o valor de
retorno da função gerada.
Pense em que informações você precisa extrair para poder traduzir as instruções (quais são os operandos, qual é a operação, onde armazenar o resultado da operação).
Lembre-se que é necessário alocar espaço (na pilha) para as variáveis locais!
Pense em que informações você precisa guardar para traduzir essas instruções (note que você precisa saber qual o endereço da instrução correspondente à linha para onde o controle deve ser desviado...)
Você deve criar um arquivo contendo apenas as funções gera
e libera
(e funções auxiliares, se for o caso))
e outro arquivo com uma função main
para
testá-las.
Sua função main deverá abrir um arquivo texto que contém um "programa fonte" na linguagem Simples (i.e, uma função Simples) e chamar gera, passando o arquivo aberto como argumento. Em seguida, sua main deverá chamar a função retornada por gera, passando os argumentos apropriados.
Por exemplo:
#include "gera.h"
int main(int argc, char *argv[]) {
FILE *myfp;
funcp funcaoSimples;
int res;
/* Abre o arquivo fonte */
if ((myfp = fopen("programa", "r")) == NULL) {
perror("Falha na abertura do arquivo fonte");
exit(1);
}
/* traduz a função Simples */
funcaoSimples = gera(myfp);
fclose(myfp);
/* chama a função */
res = (*funcaoSimples) (....); /* passando argumentos apropriados */
...
libera(funcaoSimples);
...
}
Não esqueça de compilar seu programa com
gcc -Wall -Wa,--execstack -o seuprograma seuprograma.c gera.c
para permitir a execução do código de máquina criado por gera
!
Uma sugestão (não obrigatória!) para testar a chamada de uma função Simples com diferentes argumentos, é
sua função main receber argumentos passados na linha de comando.
Para ter acesso a esses argumentos (representados por strings),
a sua função main
deve ser declarada como
int main(int argc, char *argv[])
sendo argc
o número de argumentos fornecidos na linha de comando
e argv
um array de ponteiros para strings
(os argumentos).
Note que o primeiro argumento para main
(argv[0]) é sempre o nome do seu executável.
Os parâmetros que deverão ser passados para a função
criada por gera
serão os argumentos de 1 em diante,
convertidos para um valor inteiro
(você pode usar a função atoi
para fazer essa conversão).
Deverão ser entregues via Moodle dois arquivos:
gera.c
, contendo as
funções gera
e libera
(e funções auxiliares, se for o caso).
main
.
/* Nome_do_Aluno1 Matricula Turma */ /* Nome_do_Aluno2 Matricula Turma */
relatorio.txt
,
contendo um pequeno
relatório.