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Mograbi sobre IA reproduzir emoções: ‘Acho difícil, mas não impossível’

Ao lado de Endler e Baffa, neurocientista participou do debate ‘Epistemologia, Emoções e Inteligência Artificial’, promovido pelo DI

“Será que o papel do pesquisador poderá ser substituído por máquinas inteligentes algum dia?”. A partir desta questão Markus Endler, diretor do Departamento de Informática (DI) da PUC-Rio, deu início ao debate interdisciplinar “Epistemologia, Emoções e Inteligência Artificial”, na quinta-feira (26), pelo canal do DI no YouTube e no Facebook. Para pensar sobre o processo criativo humano e a possibilidade de computadores chegarem a reproduzi-lo, Endler conversou com o neurocientista Daniel Mograbi — professor do Departamento de Psicologia da PUC-Rio — e Augusto Baffa, que ministra uma disciplina sobre inteligência artificial no DI. A troca de experiências, conhecimento e referências entre as áreas animou o bate-papo e gerou outras tantas questões, compartilhadas pela audiência via chat durante a live.

Na abertura do debate, Endler falou sobre o conceito de epistemologia. “É o ramo da filosofia que se ocupa do conhecimento científico e a maneira como nós humanos o adquirimos”, explicou. E lançou a grande questão: “Existe um estado emocional necessário para criar e a inteligência artificial poderá reproduzi-lo? Ou será que por não ter sentimentos os computadores estão fadados a apenas realizarem tarefas que parecem ser inteligentes mas, aparentemente, não são capazes criar novos conhecimentos?”

“Do ponto de vista da IA temos muito sistemas que imitam os seres humanos, e o desenvolvimento tecnológico nessa área continua evoluindo. Mas, no fundo, é muito mais um truque matemático e de modelagem, que usa a Neurociência como inspiração. De fato, ainda estamos apenas engatinhando nessa direção”, respondeu Baffa.

Já Mograbi falou do aspecto neurobiológico, que remete à origem da vida e ao processo de seleção natural, no que diz respeito aos pressupostos do que que anima o pensamento. “A criatividade é, provavelmente, muito adaptativa. Conseguir dar soluções novas para os desafios pode auxiliar um organismo que luta pela sobrevivência”, afirmou.

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Computadores podem ser criativos?

Outro ponto abordado por Endler foi sobre como computadores, que não têm emoção, poderiam ser criativos, uma vez que alguns estudos afirmam que as pessoas mais criativas são as que vivem as emoções com mais intensidade. “Talvez seja possível, ao longo do tempo, simular ou criar algo bem semelhante ao processo humano, com neurotransmissores, estímulos químicos gerais e reproduzindo qual seria a leitura e a influência disso nas redes neurais artificiais,” opinou Baffa.

Para Mograbi, existe um problema técnico nessa possibilidade de reproduzir fielmente as emoções humanas, dada a complexidade do processo e a ação do ambiente, que é capaz de surpreender. “É algo difícil de fazer, mas não acho impossível. Acho que as ciências como um todo teriam que avançar muito”, avaliou. Mograbi aponta que através dos estudos de neuroimagem sabemos que a criatividade se dá através das constantes idas e vindas (de ativação) entre um estado mental de devaneio e do estado mental de atenção plena para a resolução de tarefas. “Socialmente não é coincidência que se fale tanto em ócio criativo, por exemplo, porque se estivermos sempre orientados para a ação é difícil criar”, definiu o neurocientista.

O caráter racional e emocional dos agentes na IA e na neurociência, passando pelo clássico dilema dos prisioneiros que conjuntamente podem reduzir ambas as suas penas e como a empatia infere nas nossas decisões e até mesmo a astrologia como viés cultural foram assuntos abordados na conversa. 

“Uma das coisas que temos a reconhecer nesse debate é que existem muitas formas de inteligência, mais do que possamos imaginar. Nós conhecemos de forma muito privilegiada as formas biológicas de inteligência e cada vez mais a inteligência artificial. Talvez elas correspondam a caminhos diferentes”, sintetizou Mograbi.

Endler destacou a importância de um debate interdisciplinar para o enriquecimento das pesquisas de ambas as áreas. “Esse foi um primeiro passo para uma aproximação com o novo curso de neurociência. Acho que temos muito a aprender com vocês sobre como funciona a mente humana. Espero que seja o primeiro de vários bate-papos, não só com a psicologia, mas também com outros departamentos. Aguardem!”, encerrou o diretor do DI.