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Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência amplia debate sobre o tema

Foto: Freepik

A data, criada pela UNESCO, incentiva meninas e mulheres a seguirem no ramo de ciências exatas, incluindo Ciência da Computação

O Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência é celebrado nesta quinta-feira (11). A data, criada em 2015 pela UNESCO, busca ampliar as discussões sobre o assunto e incentivar práticas de equidade de gênero na área de ciências exatas. Segundo o relatório “Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)”, realizado pela UNESCO em 2018, apenas 28% dos pesquisadores nas áreas de exatas em todo o mundo são mulheres. 

Nas premiações elas também são minoria. Apenas 17 ganharam o  Prêmio  Nobel em física,  química  ou  medicina  desde Marie Curie, que foi a primeira a vencer a premiação em 1903. Em contrapartida, 572 homens conquistaram a honraria nesse mesmo intervalo de tempo.   

Ainda de acordo com o relatório, essa desigualdade é explicada por diversos fatores sociais e econômicos, incluindo a discriminação, os estereótipos de gênero e o baixo incentivo às meninas e às mulheres a persistirem na área, o que afeta os seus níveis de confiança nas habilidades em exatas.

No campo da informática, a situação não é diferente. Segundo a professora do DI e coordenadora da graduação, Noemi Rodriguez, a sua área de atuação – que envolve campos como Redes de Computadores e Sistemas Distribuídos – é composta por poucas mulheres. 

“A área perde no desenvolvimento dos seus trabalhos, e as mulheres perdem a oportunidade de fazer coisas extremamente interessantes”, disse. 

Como incentivar a entrada de mulheres na área de ciências exatas?

O estímulo precisa acontecer desde a infância. As escolas, os sistemas educacionais e a família cumprem um papel fundamental para atrair as meninas para essa área, e devem nadar contra os estereótipos de gêneros criados pela sociedade. 

“A definição da área que a pessoa vai seguir é feita, em grande parte, por volta dos 11, 12 anos. Por muitas vezes, as meninas dessa idade não são estimuladas a seguirem no campo de exatas, inclusive dentro de casa.  Por exemplo: o computador e os brinquedos de montar são colocados no quarto do irmão, e não no dela”, apontou Noemi.

Iniciativas, como a criação do Dia Internacional de Mulheres e Meninas na Ciência, ajudam a incentivar e incluir mulheres nesses espaços de trabalho e de pesquisa, como destacou a professora do DI Simone Diniz Junqueira Barbosa. “Uma data comemorativa motiva a concentração de vários eventos que divulguem oportunidades, casos e exemplos de mulheres na ciência”.

Dentro da área de computação, Simone destaca o grupo Meninas Digitais, da Sociedade Brasileira da Computação (SBC), que tem como objetivo a divulgação da área. Duas ex-alunas de doutorado do DI, Luciana Salgado e Sílvia Amélia Bim, atuam no grupo, respectivamente no comitê gestor e como consultora. 

“Iniciativas como essa são fundamentais para tentar desfazer algum preconceito ou mal entendido que as mulheres sofrem dentro do campo. Nossa área precisa da diversidade, e toda diversidade é bem-vinda para enriquecer as discussões na área e impulsionar o seu avanço”, complementou Simone. 

Desafios e oportunidades

Ser mulher em um espaço majoritariamente masculino não é fácil. A aluna do DI e divulgadora científica Nina da Hora concorda que esse é um grande desafio, e realça que é necessário se mostrar forte o tempo inteiro. 

“Porém, ao mesmo tempo que é um desafio, é muito compensador”, disse Nina, destacando que a presença de mulheres no meio da ciência da computação ajuda na criação de tecnologias que não sejam racistas e/ou sexistas. “É possível ver e questionar aquilo que eu estou participando.”

No DI, temos grandes exemplos de professoras e pesquisadoras que contribuem para os mais diversos segmentos de Ciência da Computação, como as próprias professoras Noemi e Simone. Noemi, por exemplo, trabalha com programação concorrente, paralela e distribuída, e com linguagens de programação; e Simone, nas áreas de Interação Humano-Computador (IHC) e Ciência dos Dados. 

Outro exemplo notório do Departamento é a professora emérita Clarisse de Souza. Além de ser uma das fundadoras da área de IHC junto à Sociedade Brasileira de Computação, Clarisse também é criadora da Engenharia Semiótica, uma teoria de base semiótica para IHC. Parte de sua trajetória foi contada no Fantástico, da TV Globo, em janeiro de 2021. 

Nosso quadro atual se completa com a professora visitante do DI Valeria de Paiva, cofundadora do Topos Institute, em Berkeley (EUA), que é cientista e pesquisadora em matemática, lógica e linguística; e com as professoras do quadro complementar: Ana Carolina Letichevsky, Cecília Reis Englander Lustosa, Claudia Ferlin, Joísa de Souza Oliveira, Melissa Lemos Cavaliere, Myriam Sertã Costa e Paula Ypiranga dos Guaranys

Para Simone, a presença de influências e referências femininas na área ajuda a estimular as alunas que querem ingressar no ramo. 

“De vez em quando, recebo mensagens de ex-alunas comentando sobre a diferença que a gente fez na vida delas. É muito gratificante seguir um caminho que é visto como possibilidade para outras pessoas”, disse, complementado uma mensagem de otimismo. “Acho que nada deveria impedir a gente de fazer o que a gente quer e gosta. Vai ter sempre gente para abrir as portas e agir como mentor.”