Para Valeria de Paiva e Augusto Baffa, serviços ainda estão distantes de traçar diálogos lógicos
Não é segredo para ninguém: cada vez mais, a sociedade tem apostado no auxílio de chatbots e assistentes virtuais em diferentes momentos, desde no atendimento ao cliente até à realização de buscas na internet. E se engana quem pensa que essa tecnologia começou há pouco tempo. “Essas tecnologias vêm evoluindo desde a década de 1960 e os últimos avanços popularizaram essa tecnologia”, diz o professor do Departamento de Informática (DI) Augusto Baffa.
Tamanho investimento e reconhecimento tem surtido efeito no nosso dia a dia – e de forma bastante progressiva. De acordo com um estudo da consultoria Gartner, publicado em 2017, é esperado que a maioria das empresas adote o sistema de conservação por meio de um chatbot até 2021. Ou seja: o primeiro contato das pessoas com as empresas seria feito através de um bot, seja através de um site, rede social, aplicativo ou até mesmo pelo telefone.
Dentro da PUC-Rio, Baffa implementou um chatbot chamado Woofy, que começou monitorando a rede do servidor do laboratório Galgos. Hoje, o Woofy está integrado a plataformas como o Telegram e o Facebook e responde a comandos específicos. Ele é capaz de responder a cotação do dólar, a previsão do tempo e até mesmo a alguns serviços dentro da universidade; quem perguntar sobre o bandejão, por exemplo, vai receber o cardápio do dia. “Eu comecei a estudar a parte de processamento de linguagem natural para evoluir o chatbot e agregar outros serviços a ele”, diz o professor.
Diálogo com os robôs: é possível?
Sim, os robôs são capazes de obedecer a determinados comandos. Mas você já imaginou conversar com eles, como se eles fossem outra pessoa?
“A Google apresentou o Google Duplex em 2018. Trata-se de uma tecnologia que permite o Google Assistant ligar para um restaurante e agendar uma mesa, conseguindo falar com a atendente com entonação, como se fosse um humano realizando a ligação. Tem até um vídeo que mostra os resultados dos testes”, diz Baffa.
Em outro teste realizado, o assistente virtual do Google também consegue fazer algumas associações. “Ele pode responder a determinadas perguntas. Por exemplo, se você perguntar algo sobre a ‘mulher do Barack Obama’, ele vai procurar pela Michelle Obama”, conta a professora visitante do DI Valeria de Paiva, cofundadora do Topos Institute, em Berkeley (EUA).
A ficção também tratou de abordar as relações entre homem e máquina, inclusive em um aspecto romântico. No filme Her, de 2013, o protagonista Theodore, interpretado por Joaquin Phoenix, apaixona-se pela voz da sua assistente virtual.
Apesar de todos esses casos, isso não significa que os robôs estão perto de entender a complexidade do cérebro humano e de estabelecer diálogos lógicos com a gente. “Não há nenhum entendimento por parte do sistema sobre o que está acontecendo”, explica Valeria.
A professora visitante do DI esteve à frente de pesquisas com o intuito de melhorar a capacidade de se relacionar com a internet usando a voz. Para a empresa Nuance Communications, por exemplo, Valeria pesquisou sobre o avanço na comunicação com televisores e carros. Já para a Samsung Electronics, a ideia era otimizar o diálogo com os aparelhos de smart home, como geladeiras e máquinas de lavar. “Seria ótimo ‘ligar’ para a sua geladeira e perguntar se ainda tem leite suficiente em casa, antes de ir ao mercado”, brinca.
Porém, para Valeria, há alguns desafios nessa empreitada. Um deles é a conversa e a colaboração entre as fabricantes de assistentes virtuais, para que todos pudessem estar no mesmo patamar e atender ao consumidor da mesma forma.
Outro desafio é a implementação da semântica dentro dos assistentes virtuais. “A Siri ou o Google Assistent, por exemplo, reconhecem as palavras que você fala, mas não sabem o que elas significam”, diz. “Boa parte da disponibilidade dos serviços que temos hoje são muito mecânicos, baseados em regras rígidas para o reconhecimento das sentenças”, concorda Baffa.
Ou seja: por enquanto, as conversas entre humanos e máquinas vão continuar se alimentando apenas de perguntas e respostas, fornecidas através de comandos. Mas não podemos desmerecer o avanço dessa tecnologia.
“Em 2011, o robô Watson, da IBM, ganhou o jogo de Jeopardy!, que é um programa americano de programas e respostas, no qual você ouve a resposta e tem que formular a sua respectiva pergunta. No caso, o Watson participou do Jeopardy! com outros dois vencedores – humanos – do programa, e teve a capacidade de compreender a linguagem falada”, conta Baffa, que finaliza: “O grande problema dos assistentes virtuais e dos chatbots não é relacionado a perguntas e respostas, mas sim à capacidade de conversação em relação ao ser humano.”