Perfil: Arndt von Staa é um dos pioneiros na computação no Brasil

Professor emérito e um dos fundadores do DI é apaixonado por programação 

 

Hoje é dia de conhecer mais a trajetória de um dos grandes pesquisadores do DI. Vamos apresentar o perfil do professor emérito Arndt von Staa. Confira!

 

Um interesse que surgiu “por acaso”. É dessa forma que o professor emérito do Departamento de Informática (DI) da PUC-Rio Arndt von Staa define o seu vínculo com a computação. Tudo começou durante a graduação em Engenharia Mecânica, cursada na própria PUC-Rio. A curiosidade despertada no jovem von Staa frutificou, e ele veio a se tornar um dos pioneiros da área de computação no Brasil, e também um dos fundadores do departamento.

 

“No segundo semestre do segundo ano (em 1962), eu não tinha nada para fazer à tarde. Um dia, o Padre Amaral, então coordenador do curso de Engenharia da PUC-Rio, apareceu no corredor e me contou do curso de programação que a universidade ia oferecer. Falou que eu provavelmente iria gostar, e achei interessante”, contou o professor em live com a professora e coordenadora da graduação, Noemi Rodriguez

 

 

Depois, ele passou a estagiar no Centro de Processamento de Dados (CPD) da universidade, e ajudou a desenvolver um programa para a simulação da operação de reservatórios de hidroelétricas. A partir dali, foi participando de outros projetos, até que… o mero interesse havia se tornado “fascínio”, como diz o próprio no artigo “História da Computação – Uma visão personalista”. No texto, o professor fala de sua trajetória profissional e da evolução da computação ao longo do tempo.

 

Formado engenheiro mecânico, von Staa conseguiu, em 1966, uma bolsa para fazer um curso de extensão em Stuttgart, na Alemanha, onde permaneceu por um ano e meio. Quando retornou ao Brasil, abraçou um dos projetos mais desafiadores de sua carreira: a fundação do DI e também do primeiro programa de pós-graduação em Informática do Brasil. 

 

Primeiros anos e carreira no DI

 

Podemos dizer que a história do departamento, que tanto se confunde com a de von Staa, teve início não em 1967, mas em 1960, quando a PUC-Rio foi escolhida para sediar o primeiro computador instalado no Brasil: o Burroughs Datatron B-205. Nos anos seguintes, a universidade começou a receber outras máquinas, como a B-200, a IBM 1130 e a IBM 7044. Todas elas foram operadas por von Staa em algum momento. 

 

Em meados de 1967, o campus da Gávea tinha o maior centro de computação científica do Brasil. Ainda no Departamento de Matemática, von Staa e demais professores, como Carlos Lucena, Antônio Furtado, Luiz Martins, Roberto Lins de Carvalho e Sérgio Carvalho, começaram a cursar um novo mestrado na universidade. Mas não só isso: eles também estavam lecionando nesse mesmo programa. 

 

Professor von Staa recebe título de emérito pela contribuição à Universidade e ao meio acadêmico. Foto: Acervo Comunicar/PUC-Rio

O professor emérito afirma que o mestrado se desenvolveu por meio de um processo conhecido como bootstrap – ou seja, desenvolver algo usando esta mesma coisa como instrumento. “Cada um tinha que ensinar alguma coisa para os demais. Por exemplo: alguém era responsável por ensinar linguagens de programação, enquanto outro tinha que transmitir os conhecimentos em sistemas operacionais, e por aí vai. Eu tive que ensinar estruturas de dados”, relembrou.

 

O DI foi criado oficialmente no final de 1967, e começou a operar formalmente em março de 1968, tendo como primeiro coordenador de pós-graduação o professor Lucena. O professor Antonio Cesar Olinto foi o primeiro diretor. Em outras ocasiões, von Staa também assumiu esses dois cargos – o primeiro por seis anos, e o segundo por dez anos. 

 

Sua vivência na PUC-Rio não parou por aí: ele também participou na criação do programa de doutorado, foi decano interino do Centro Técnico Científico (CTC), apoiou a criação do Instituto Gênesis, organizou o início do LabDI. Destacou-se por defender a existência e criação dos laboratórios temáticos, e implementou o financiamento de parte do DI com base em laboratórios temáticos. E também pelo ofício de professor dos programas de graduação e pós-graduação do departamento. Aposentou-se em 2016, e se tornou professor emérito. 

 

“Ele sempre foi um professor de excelência, principalmente em relação à formação dos alunos, que saíam de sua disciplina com competência e conhecimento muito maiores do que entraram”, testemunha o professor e amigo Marcelo Gattass. A boa relação com os estudantes é lembrada pela professora Noemi Rodriguez: “O seu comportamento cortês era muito percebido pelos alunos. Ele sempre estava interessado no trabalho deles, e era muito envolvido com cada um de seus orientados”. 

 

Paixão por programação

 

Durante o trabalho como professor do departamento, von Staa lecionou uma de suas áreas preferidas: a programação. “Ele é um excelente programador. Estava sempre desenvolvendo ferramentas, e sempre falou com uma experiência muito grande do próprio trabalho”, frisou Noemi.

 

Arndt von Staa em live com a professora e coordenadora da graduação, Noemi Rodriguez. Foto: Reprodução

Um dos programas desenvolvidos por ele foi o Talisman, um meta-ambiente de engenharia de software assistido por computador que apoia a especificação, arquitetura, projeto e desenvolvimento de software. “Foi extremamente interessante desenvolvê-lo. Levou mais ou menos cinco, seis anos de trabalho”, relatou o professor, na live com Noemi. Na mesma apresentação, ele confirmou que seu propósito era escrever programas que o ajudassem a resolver um desafio, e que se divertia com essa tarefa.

“Ele sempre procurou fazer as coisas de forma prática e rigorosa. Tinha uma certa obsessão para que os programas estivessem certos, e sempre buscou maneiras de que os profissionais formados pelo DI tivessem muita responsabilidade em seus trabalhos”, afirmou Gattass.

 

Outras passagens importantes de vida profissional de von Staa foram em 1974, quando se titulou PhD em Ciência da Computação pela Universidade de Waterloo, e em 2008, ano em que foi inscrito na Ordem do Mérito Científico e Tecnológico no grau de comendador. O professor é também membro titular da Academia Nacional de Engenharia. 

 

Ele já revelou que não gosta de escrever artigos, e que tem o vício de achar que tudo que faz se baseia em conceitos óbvios. “O que me deixa feliz é ter a impressão que, embora esteja tecnicamente obsoleto hoje, estive na frente da onda até não muito tempo atrás”, escreveu no artigo “História da Computação – Uma visão personalista”. Mais do que isso: von Staa é símbolo do DI e da história da informática no Brasil.

Perfil: Marcelo Gattass trouxe parcerias com empresas e indústria ao DI

Professor titular e diretor do Instituto Tecgraf, Gattass tem uma visão empreendedora e um compromisso com a disseminação do conhecimento

Hoje é dia de conhecer mais sobre a carreira e as conquistas dos pesquisadores do DI. Vamos apresentar o perfil do professor titular e diretor do Instituto Tecgraf, Marcelo Gattass. Confira!

Produzir conhecimento e transmiti-lo para a sociedade. Essa é a missão do professor titular do Departamento de Informática (DI) e diretor do Instituto Tecgraf, Marcelo Gattass. “Eu comecei o clico básico do CTC da PUC-Rio pensando em fazer Matemática, mas não persisti nessa ideia porque não sabia como nela eu poderia interagir com a empresas. Minha preocupação foi tão grande que acabei me graduando na engenharia que na minha visão na época era a mais aplicada, a Engenharia Civil”, disse o professor. Mas como um engenheiro civil foi parar no DI? Para contar essa história, que está profundamente ligada à PUC-Rio, precisamos voltar um pouco no tempo.

Nascido em Mato Grosso do Sul, ainda jovem se mudou para o Rio de Janeiro. Quando estava no ensino médio, não sabia qual carreira seguir, até que o recomendaram ir ao serviço de atendimento da PUC-Rio, que oferecia orientação vocacional. “Quando cheguei lá, eu vi o Campus e foi algo muito forte para mim. Eu queria ficar perto daquelas árvores, daquele bosque, daquele ambiente. Não sabia o que queria estudar, mas sabia que queria estudar lá”, lembrou Gattass, que atribui sua conexão com a natureza à infância no Pantanal.

Se formou em Engenharia Civil pela PUC-Rio em 1975, começou a dar aulas no DEC nesse período e fez o mestrado na mesma área em 1977. Mas sua atuação mais direta em Informática ocorreu durante o doutorado em Engenharia Civil na área de Computação Gráfica da Universidade de Cornell, nos Estados Unidos.

“Quando cheguei em Cornell, estava iniciando um grande projeto interdisciplinar em Computação Gráfica, envolvendo diversos departamentos e empresas apoiado pela NSF”, disse Gattass, atribuindo à “sorte” a sua chegada em Cornell naquele momento.

Após o fim do programa de doutorado, ele retornou ao departamento de Engenharia Civil da PUC-Rio e começou a trabalhar na construção de relacionamento com empresas em torno da área de computação – algo até então incomum nas universidades do Brasil na época. “Em Cornell, Gattass teve contato com a mentalidade de que a universidade pode fazer projetos com a indústria. Ao voltar para a PUC, ele trouxe essa bagagem com ele e mudou completamente a forma de trabalhar, sobretudo dentro da informática”, disse o atual diretor do DI, Markus Endler.

O Instituto Tecgraf e o ingresso ao DI

O professor deu mais um passo em direção ao nosso departamento após a criação do Grupo Tecgraf da PUC-Rio, em 1987, que envolvia os departamentos de Informática, Engenharia Civil e Matemática. O objetivo do Tecgraf é desenvolver sistemas computacionais  de modelagem e simulação computacional, gestão de dados e ciência de dados, tecnologias de interatividade digital, Indústria 4.0 e otimização e logística.

Gattass fez parte da primeira equipe do projeto, que tinha como meta o desenvolvimento da biblioteca GKS/PUC, uma implementação nacional do então padrão internacional de um Graphical Kernel System para o desenvolvimento de programas gráficos interativos.

Desde o início das suas atividades, o Tecgraf estabeleceu uma parceria com a Petrobras, que se mantém sólida até os dias de hoje. Com o passar do tempo, o trabalho desenvolvido lá dentro, que era liderado por Gattass, chamou a atenção da diretoria do DI. O então diretor José Lucas Rangel o convidou para fazer parte do departamento, primeiramente assumindo o Instituto de Tecnologias de Software (ITS) e, depois, integrando o corpo docente. “Eu continuei essa minha carreira como professor no DI e, ao mesmo tempo, como coordenador do Tecgraf”, disse Gattass.

Inauguração do Prédio Pe. Laércio em 17 de outubro de 2013. Na foto (esq. para dir.): o superintendente de pesquisa e desenvolvimento tecnológico da ANP, Elias Ramos; o reitor da PUC-Rio, Pe. Josafá Carlos de Siqueira; o então diretor de E&P da Petrobras, José Formigli; e o professor Marcelo Gattass. Foto: Arquivo pessoal

Com o passar do tempo, o trabalho do Tecgraf foi totalmente abraçado pelo DI, até que em 2013 tornou-se um instituto diretamente ligado à vice-reitoria de desenvolvimento da universidade. Hoje, o Tecgraf desenvolve projetos em parceria com diversas empresas e indústrias, como a Petrobras, Transpetro, GE Brasil, Eneva, Shell Brasil e Marinha do Brasil. O instituto ainda mantém colaborações com diversos departamentos acadêmicos da PUC-Rio, e com outras instituições de ensino e pesquisa nacionais e internacionais.

Apesar do instituto ter se tornado uma unidade independente do DI, o professor se mantém ativo na graduação e na pós-graduação, onde aborda diversos assuntos voltados à Computação Gráfica e Visão Computacional. “Ele sempre está presente nas reuniões, contribuindo com opiniões sensatas e importantes, e ajudando o departamento”, destacou Endler.

Conquistas e honrarias

Trajetória de Gattass foi laureada com diversos prêmios e honrarias, como o Prêmio de Comendador da Ordem do Mérito Científico, em 2000, a Grã-Cruz da Ordem Nacional Mérito Científico do Ministério de Ciência e Tecnologia, em 2007, e o Prêmio Personalidade Inovação de 2019 da ANP, em 2019.

Para o professor, seu trabalho à frente do Tecgraf foi responsável por grande parte de suas conquistas. E não era para menos: segundo ele, o objetivo do instituto era colocar a PUC-Rio como uma universidade voltada à produção de conhecimento e à formação de excelência, num modelo acadêmico financeiramente autossustentado.

Também é necessário destacar o crescimento do Tecgraf ao longo dos anos. Além do grande número de parcerias, o instituto mantém uma equipe que, hoje, ultrapassa 400 pessoas – financiadas diretamente pelos seus projetos. Segundo o professor, o o Instituto apoia com bolsasos alunos de mestrado e doutorado que participam dele. Mas ele tem outro desejo: poder fazer o mesmo pelos graduandos.

“É um sonho dar uma bolsa integral a um aluno de graduação, para ele possa pagar com seu trabalho sua educação”, disse, frisando a o valor do conhecimento para a sociedade.

Sua visão humanista, o seu cuidado com o próximo e a sua vontade de fazer a diferença também são pontos que reforçam as suas conquistas, estimulam o trabalho dentro e fora do ambiente acadêmico, e chamam a atenção dos seus pares e pessoas ao redor.

O gerente geral técnico do Instituto Tecgraf e ex-aluno do DI, Carlos Cassino, trabalha com Gattass desde 1993. Para ele, o professor criou uma forte cultura de valorização de pessoas dentro do instituto – e Cassino se sente parte desse meio.

“Quando eu estava no doutorado, ele tinha um curso de introdução à computação gráfica, e me pediu para dar aula naquela turma”, contou. Só que tem um detalhe: a pesquisa de Cassino era voltada à parte de linguagens e sistemas distribuídos.

“Levei essa questão ao professor Gattass e ele disse que não tinha problema. O seu foco era com que os alunos aprendessem bem a parte de orientação de objetos e de linguagem em Java, que é a minha área. Então você vê: ele olha para as situações e sempre busca uma forma de ajudar as pessoas e de tirar o melhor delas”, explicou o ex-aluno do DI.

A positividade do professor também é um ponto destacado por Endler. “Admiro muito a sua tranquilidade e o seu senso de humor. Ele é uma pessoa muito positiva, até mesmo nas situações difíceis”, finalizou o diretor do DI.